Neste final de semana aconteceu a quarta edição do Mimo Festival em Paraty.
Fotos: Ricardo Gaspar
A expectativa é sempre grande e os turistas já se programam para visitar a cidade nesse fim de semana… O evento sempre traz nomes consagrados e, também, nomes desconhecidos do grande público.
O MIMO Festival tem uma proposta musical abrangente, eclética. Desde a primeira edição em Paraty, surpreendeu e em todas as demais edições, sempre há concertos com músicos de vários lugares do mundo como Jordânia, Portugal, vários países da África, Ucrânia….
Sua programação traz concertos no palco na Praça da Matriz e concertos mais intimistas no interior das igrejas. Neste ano, a Igreja Santa Rita, sede do Museu de Arte Sacra de Paraty recebeu o cabo-verdiano Mario Lucio Sousa, a Igreja do Rosário recebeu o vencedor do prêmio MIMO de Música Instrumental, Messias Brito e a Igreja da Matriz foi cenário do concerto do quarteto de cordas Ana Oliveira e do duo formado pelo violinista Ricardo Herz e Samuca do Acordeão.
Nem a chuva forte, nem o domingo de sol desanimaram o público, que lotou as igrejas todos os dias. Aliás, o clima colaborou muito fazendo a chuva parar na hora dos concertos abertos na praça.
Além dos shows, o público pode interagir e conhecer mais de perto alguns artistas nos workshops que aconteceram na Casa da Cultura e na recém inaugurada Casa da Música de Paraty. Nos workshops, alguns músicos optaram por apresentar mais a parte técnica. Cheikh Lô, após uma breve apresentação dos ritmos africanos, faz um intercâmbio com percussionistas de Paraty. Já o Dakhabrakha fez uma apresentação super didática sobre a história do grupo, os instrumentos utilizados, as canções tradicionais ucranianas e suas releituras.
O Forum de Ideias também é um momento de reflexão sobre música, cultura e arte. Neste ano Mário Lúcio Sousa traz seu projeto Lugares da Memória, que pretende encontrar as conexões entre a música de todos os cantos do mundo.
Além disso, a programação de filmes sobre música que acontece no auditório da Casa da Cultura enriquece as opções de quem visita Paraty nestes dias.
Na sexta feira, a programação começou com o quarteto de cordas Ana Oliveira, tocou um repertório baseado em música erudita de compositores brasileiros, como Villa Lobos, Guerra Peixe e José Siqueira. Ana também é responsável pela coordenação pedagógica do MIMO. A sonoridade do quarteto se aproveitou bem da excelente acústica da igreja, trazendo clima de silencio e atenção que o recital exige, da mais alta qualidade.
O primeiro concerto do Palco da Matriz foi com o grupo ucraniano Dakhabrakha. O grupo apresentou suas releituras de canções folclóricas ucranianas, fortemente baseadas na sonoridade das vozes e uma forte percussão, utilizando instrumentos de diversas partes do mundo, que não fazem parte do repertório tradicional. Com uma sonoridade e uma indumentária muito particular, pouco familiar para nós, o grupo encantou a plateia. No final da apresentação, o grupo abriu a bandeira de seu país e se emocionou com os gritos do público “Ucrânia, Ucrânia…”
A noite de sexta feira terminou com o show do rapper Emicida, grande esperado do público jovem. Ele trouxe como convidado o veterano baterista Wilson das Neves. Um show com muita energia, levantado a voz contra o racismo e a opressão. À tarde ele esteve no Forum de Ideias, conversando com Mario Lúcio sobre as interconexões culturais entre os países de fala portuguesa.
A chuva que caiu forte no final da tarde foi diminuindo durante o primeiro concerto do Dakhabrakha e praticamente parou no show do Emicida, atrapalhando muito pouco as apresentações e o clima de festa.
O sábado começou com concerto do cabo-verdiano Mario Lúcio na Igreja Santa Rita. A forte chuva não impediu o público de lotar a sede do Museu do Arte Sacra de Paraty, para um momento emocionante e intimista. A pequena igreja propiciou momentos de intimidade e lirismo, onde Mario Lucio, com seu violão e sua poesia, foi contando um pouco de sua história.
A seguir a Igreja da Matriz recebeu um encontro inusitado entre o violino do paulista Ricardo Herz e o acordeon do gaúcho Samuca. O encontro deste violinista paulista com o acordeon gaúcho trouxe sonoridades típicas da Argentina, Uruguai e do sul do Brasil, interpretados com maestria pelos grandes instrumentistas.
No palco da Matriz, o aguardado show de Elza Soares contou com um público numeroso de todas as idades. Aos quase oitenta anos, Elza se renova e apresenta o repertório moderno de seu último álbum A Mulher do Fim do Mundo. A cenografia integrada com as roupas da artista completa a concepção deste espetáculo surpreendente. Sentada em no alto de uma escadaria, a figura marcante da cantora hipnotizou a plateia com sua voz rouca e potente. O show fez muito sucesso e o público ficou em massa para assistir o último show da noite, que começou depois da 01 da manhã, com a virada do horário de verão.
O senegalês Cheikh Lô arrebatou a plateia com muita animação, misturando música africana, jazz e ritmos cubanos. Acompanhado de músicos jovens , no sax, guitarra, baixo, bateria e percussão, Chekh Lô se alternou na voz, guitarra, percussão e bateria.
O lindo domingo de sol foi ideal para curtir o virtuosismo do cavaquinho de Messias Brito, prêmio MIMO de música instrumental. O concerto foi na Igreja Nossa Senhora do Rosário e o público compareceu em peso e aplaudiu muito o artista.
Na saída, já todos se prepararam para a tradicional chuva de poesia que, neste ano, mudou para a Igreja Nossa Senhora do Rosário. Adultos e crianças fizeram questão de levar poesias em vários papéis coloridos para casa.
Às 17h30 começou o concerto no Palco da Matriz do grupo de Caxias do Sul Ccoma. No início, havia pouquíssimas pessoas assistindo, mas logo que a vibrante música eletrônica do grupo começou, o público foi chegando e gostando. As músicas dançantes, mas com uma inegável pegada gaúcha e latina, levantaram o público que dançou animadamente.
O show de encerramento do MIMO 2016 não poderia ser melhor: Hamilton de Holanda e grupo com o Baile do Almeidinha. Música brasileira da melhor qualidade que fez o público cantar e participar até o fim.
Viver o MIMO em Paraty é uma experiência musical completa e o melhor de tudo isto é poder, também curtir Paraty, com seu charmoso centro histórico, sua gastronomia, arte e arquitetura colonial.