No dia 04 de dezembro de 2014, o Museu do Território de Paraty fez sua primeira apresentação pública com uma exposição áudio-visual, jornada de debates (veja a programação), workshop de fotografia e placas comemorativas. Com estas ações o Museu apresenta e discute sua proposta. É um Museu diferente: ele não tem sede e seu acervo trata do território (não do prédio institucional), do patrimônio (não da coleção) e da comunidade (não dos visitantes).
Esta primeira ação é um recorte que busca entender com a velha guarda, o que mudou em Paraty com a chegada da Rodovia Rio-Santos. A equipe Paraty.com.br conversou com Paulo Werneck, curador da FLIP 2014 e 2015 e, também curador desta primeira ação pública chamada: Histórias e Ofícios do Território. Depois, Mauro Munhoz, diretor-presidente da Casa Azul e idealizador do Museu do Território de Paraty, nos conta como surgiu a idéia do Museu e quais são os princípios que norteiam os trabalhos. Por fim, Alexandre Pimentel, coordenador de pesquisa do Museu do Território nos conta como é seu trabalho de campo e o contato com instituições e moradores de Paraty cheios de histórias para contar. Ele compartilha conosco momentos emocionantes de seus encontros com a história vivida pelos paratienses da velha guarda.
PAULO WERNECK EXPLICA A PROPOSTA DE HISTÓRIAS E OFÍCIOS DO TERRITÓRIO (ASSISTA AO VÍDEO):
Paraty.com.br – Paulo, o que é o Museu do Território?
Paulo Werneck – O Museu busca a articulação entre diferentes instituições e, também, recolher informações culturais sobre as tradições de Paraty, os ofícios, a população que fez a cidade ser o que é. O Museu se propõe a fazer uma série de levantamentos que podem ser topográficos, arquitetônicos ou até na linha de pesquisa junto à população para poder fixar este patrimônio imaterial da cidade. Já está sendo feita uma pesquisa extensa de escuta da população onde a equipe liderada pelo Alexandre Pimentel mapeia as pessoas chave da cidade, que tem um saber muito precioso e que nem sempre encontra uma expressão na vida cultural da cidade. O Museu através de várias linhas de pesquisa e de algumas ações públicas como esta exposição vai cultivar este legado que a cidade tem nas mãos.
Paraty.com.br – E sobre o workshop do Walter Craveiro?
Paulo Werneck –Ele está explorando muito bem a carga narrativa de uma foto antiga. O Museu está pesquisando as imagens de Paraty existentes o IPHAN e no IHAP (Instituto Histórico e Artístico de Paraty), bem como tomando conhecimentos das fotos de família, que os paratienses estão disponibilizando para o Museu. Estas imagens, que carregam grande importância afetiva, estão sendo digitalizadas e catalogadas, tomando-se todo o cuidado com autorizações e direitos autorais. Eu acho que ainda vai sair muita coisa bonita dessas fotos.
>> Estas primeiras fotos podem ser vistas na exposição da Casa da Cultura de Paraty até o dia 08/03/2015.
PAULO WERNECK COMENTA O PAPEL DO MUSEU EM RELAÇÃO A AÇÕES DE PRESERVAÇÃO E FALA SOBRE O PAPEL DO TURISMO EM PARATY (ASSISTA AO VÍDEO):
Paraty.com.br – Qual é a relação da FLIP e o Museu do Território de Paraty?
Paulo Werneck– Ambos são projetos da Casa Azul e Mauro Munhoz é o idealizador dos dois projetos. Ambos tem grandes afinidades mas em escalas diferentes. A principal liga entre FLIP e Museu é que ambos tem uma integração orgânica com a cidade. São projetos feitos por paratienses, junto a pessoas de fora, mas que sempre respeitam a maneira de viver da cidade. Também existe desde o início uma preocupação de estar sempre presente, em uma ação continuada na cidade. Um exemplo disso é o trabalho de formação de jovens cenotécnicos que acontece nas oficinas oferecidas pela Casa Azul o longo do ano. A Casa Azul também possui uma Biblioteca e possui ações junto aos professores com o Ciclo do Autor Homenageado.
PAULO WERNECK COMENTA O SEU PAPEL DE CURADOR DA FLIP (ASSISTA AO VÍDEO):
MAURO MUNHOZ, DIRETOR-PRESIDENTE DA CASA AZUL E DIRETOR-GERAL DO MUSEU DO TERRITÓRIO, CONTA COMO NASCEU A PROPOSTA DO MUSEU (ASSISTA AO VÍDEO):
Mauro Munhoz – Gostaria de destacar que uma das ações públicas do Museu são as placas comemorativas, que já podem ser vistas na exposição no Espaço Experimental de Cultura Cinema da Praça até o dia 08 de março. Em breve elas farão parte de alguns muros no Centro Histórico. A idéia destas placas é trazer de volta ao Centro Histórico aquela conversa de fim de tarde que, até a década de ’70 acontecia nas ruas, quando os moradores colocavam suas cadeiras nas ruas e compartilhavam suas vivências. As placas conterão trechos das entrevistas colhidas. Isto tem um valor simbólico muito importante para trazer a memória oral para estes espaço que, ainda hoje é uma centralidade, onde as festas tradicionais acontecem na praça, as pessoas se encontram, as crianças da periferia usam seus skates, as procissões trazem suas bandeiras. O Centro Histórico concentra esses valores. A questão da colocação das placas também envolve técnicas que estão sendo desenvolvidas especialmente para este projeto, com a afixação em muros do Centro Histórico tombado. Estas placas terão uma fixação permanente, porém as frases poderão ser mudadas periodicamente. A mão de obra é paratiense e nossa preocupação é com a formação profissional local. Acho que estas placas vão provocar o envolvimento e a discussão na cidade sobre as relações entre a memória e se pensar o futuro deste território. Você só consegue pensar no futuro se tiver uma visão compartilhada do passado. O Museu é um projeto que vai ajudar a enfrentar estes desafios que estão postos para todo mundo.
ALEXANDRE PIMENTEL FALA SOBRE AS PESQUISAS QUE ESTÁ DESENVOLVENDO NO MUSEU:
Alexandre sempre andou por Paraty, seja como turista, como professor de geografia trazendo seus alunos, como pesquisador, através do Museu Vivo do Fandango, como diretor da Biblioteca-Parque de Manguinhos, ou como mediador de mesas na FLIP. Esta aproximação da Casa Azul, seu desejo de morar em Paraty e as evidentes afinidades, culminaram com a entrada de Alexandre no Museu do Território como coordenador de pesquisas.
Paraty.com.br – Alexandre, quais são as tuas atividades no Museu, como é teu dia-a-dia?
Alexandre Pimentel – O trabalho do Museu começou com uma costura institucional com quem já estava fazendo este trabalho na cidade há bastante tempo e deve ser respeitado. Entre eles estão o IBRAM, com seus dois museus: de Arte Sacra e do Forte Defensor Perpétuo, o IPHAN, o Instituto Histórico e Artístico de Paraty, a Secretaria de Educação, de Cultura, o Silo Cultural, o Sesc. Nós fizemos um conjunto de reuniões para mapear o papel destas instituições, conhecer suas demandas e verificar as possibilidades de parceria. Nosso intuito era ver como poderia ser feita essa costura entre as instituições, buscando ajudar a viabilizar o acesso público a esses acervos. O objetivos é sempre somar, fortalecer estas instituições e jamais competir com elas. O outro trabalho é um conjunto de pesquisas no território, complementares, que ainda não tinham sido feitas. Esta leitura territorial é bem complexa e pode ser feita de diversas maneiras, tanto, levantamento topográficos, de bacias hidrográficas, que é pouco usual para um museu, como também, as pesquisas de memória oral, com gravação de depoimentos. Também, outros tipos de pesquisas de modos de fazer, de tecnologias utilizadas aqui. Teremos também o plano diretor, mapas, enfim, tudo o que disser respeito a Paraty. A idéia é que todo este material esteja disponível para acesso público em um banco de dados. Desta forma, quem quiser, poderá acessar o acervo do Museu ou ter a informação de onde encontrar as informações que necessita.
ALEXANDRE PIMENTEL CONTA COMO FOI O PROCESSO DE COLETA DESTES PRIMEIROS DEPOIMENTOS (ASSISTA AO VÍDEO):
Alexandre também faz questão de destacar que, além das instituições citadas, há algumas pessoas que já desenvolveram trabalhos muito interessantes com as quais o Museu já está dialogando, como:
. Marcos Ribas, como seu livro Modos de Fazer (esgotado) e A História do Caminho do Ouro em Paraty
. Nena Gama, na ECO TV
. Marina de Mello e Souza, com seu livro Paraty e as Festas
. Tom e Thereza Maia com seu livro Encantos e Malassombros
. A exposição áudio visual da reabertura da Casa da Cultura com curadoria da Bia Lessa
. A Casa Azul
A busca é fortalecer uma idéia de rede e que, no futuro, pode se chegar até a ter uma gestão compartilhada desse museu.
Paraty.com.br – E os próximos passos?
Alexandre Pimentel – Agora foi feita esta primeira ação pública com a exposição e a jornada de debates, mas consideramos que o Museu ainda não está pronto. Temos agora o desafio de implementar o banco de dados que irá ajudar a catalogar e dar visibilidade a todas as estas informações que estão sendo coletadas. Nosso objetivo é chegar ao final de 2015 com este banco de dados já implantado.
ALEXANDRE COMENTA OS TESOUROS ENCONTRADOS EM SUAS PESQUISAS (ASSISTA AO VÍDEO):
Para finalizar, Alexandre se diz super fã do Eduardo Coutinho, reconhecido mestre na arte de entrevistar. Para a realização das entrevistas a equipe de pesquisadores fez uma preparação, uma reflexão conjunta para ganhar uma unidade na abordagem. Foram feitas discussões em cima de textos do Eduardo Coutinho.
Alexandre Pimentel – O mestre falava que uma das coisas mais bonitas ao se fazer uma pergunta é o silêncio do entrevistado, antes de dar sua resposta. Na urgência, muitas vezes o entrevistador atropela a temporalidade do entrevistado. Procuramos não ter um roteiro muito fechado. Mais do que fazer perguntas fechadas, buscamos abrir caminhos. A partir de uma resposta que não se espera é que se abrem novos temas que devem ser seguidos. Uma boa entrevista deve ser uma conversa prazeirosa para ambos os lados.
O MUSEU DO TERRITÓRIO DE PARATY:
Acesse o site www.museudoterritoriodeparaty.org.br
e veja fotos, vídeos e informações sobre a jornada de debates e o workshop de fotografia
Visite a Exposição audio-visual no Espaço Experimental de Cultura Cinema da Praça, até 08/03/2015. Entrada Franca.
Visite a Exposição de Fotografias na Casa da Cultura de Paraty, até 01/03/2015. Entrada Franca