Semana Santa em Paraty

De 02 a 09 de abril de 2023
Desde seus primórdios que Paraty é uma cidade tradicionalmente católica, organizando e festejando anualmente cerca de 23 festas de cunho religioso, sendo as mais importantes a Festa do Divino, a Festa e Procissão marítima de São Pedro, Corpus Christi, a Festa de Santa Rita, a Festa de N.S. dos Remédios – Padroeira da Cidade – e a Semana Santa.
Neste ano, no mesmo final de semana do feriado, também acontece outro evento importante na cidade:
As comemorações da Semana Santa na cidade histórica de Paraty mantêm tradições que datam dos séculos XVII e XVIII, ocasião em que podem ser admiradas imagens e peças sacras com mais de 300 anos de existência. Essas peças, que se encontram sob a tutela do IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ficam guardadas todo o ano no cofre do Museu de Arte Sacra de Paraty, na igreja de Santa Rita.
Todas as procissões e celebrações da Semana Santa são, até hoje, preservadas, tanto pela paróquia quanto pelo povo paratiense. Seis peças de valor histórico-arquitetônico incalculável podem ser vistas na Sexta-Feira Santa em Paraty: os Passos da Paixão, abertos apenas uma vez por ano.
Os Passos são pequenos altares embutidos em paredes de sobrados, casas e igrejas representando os principais momentos da Paixão de Cristo, tradição que veio de Portugal ainda no Brasil Colônia, tendo sido construídos passos em diversas cidades além de Paraty, como Tiradentes, Ouro Preto, Congonhas e São João del Rey, todas em Minas Gerais. Restaram seis Passos em Paraty, restaurados, sendo três na rua do Comércio, dois na rua Dona Geralda e um na lateral da igreja de Santa Rita.
Um dos pontos altos da Semana Santa em Paraty é a Procissão do Fogaréu (ou da Prisão) da qual, no início, somente homens participavam, sendo as mulheres proibidas até de vê-la pelas janelas. Dessa procissão, reativada na década de 70 por um grupo de jovens paratienses, participava a figura do Centurião, que ia à frente do andor tocando uma corneta quando chegava à frente das igrejas. O Fogaréu, que inicia à meia noite de Quinta-Feira, simboliza a prisão de Cristo. Nessa procissão secular os fiéis saem pelas ruas de pedras do Centro Histórico portando fifós (tochas), com as luzes dos postes apagadas e ao som incessante de matracas – o que nos transporta a outros tempos. As matracas vieram substituir os sinos que, por serem motivo de júbilo, silenciam na Quinta-Feira Santa e só voltam a tocar no Domingo de Páscoa.
É curioso notar durante a procissão que, em fila, os fiéis entram pelas laterais saindo pela porta principal de todas as igrejas do Centro Histórico. São duas explicações para este fato: uma litúrgica e uma popular. A versão litúrgica trata da indulgência plenária – o perdão dos pecados sem a confissão; e a popular estipula que a procissão do Fogaréu é uma dramatização dos passos de Cristo, isto é, as igrejas representam os lugares por onde Cristo teria passado após a prisão: Anás, Caifás, Herodes, Pilatos e presos nunca entram pela porta da frente.
Além de Paraty, uma das poucas cidades onde ainda se mantém viva a tradição do Fogaréu – embora realizada de maneira distinta, sobretudo nos figurinos – é na cidade de Goiás Velho, em Goiás, agraciada pela Unesco com o título de Patrimônio da Humanidade.
Imagens sacras de valor incalculável podem ser admiradas durante as procissões da Semana Santa em Paraty: o Senhor dos Passos, do século XVIII, em tamanho natural, com braços articulados; o Cristo Crucificado, também em tamanho natural, usado na cena do Calvário, arte espanhola do século XVIII; a Nossa Senhora da Soledade, que sai na Procissão do Enterro, de 1.80m de altura e origem também espanhola, muito provavelmente do oitocentos; e o Senhor da Cana Verde e a N.S. das Dores, ambas igualmente do século XVIII, chamadas peças “de roca”, isto é, figuras que possuem apenas a cabeça, os braços e os pés, muito comuns em Minas Gerais.
Durante as procissões da Semana Santa em Paraty podem ser vistas outras peças raras feitas em madeira, como o esquife do Senhor Morto, ou de prata ricamente lavrada, como as lanternas e o Pálio da Procissão do Enterro, entre outras.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA 2023:
Dia 02/04/2023 – Domingo de Ramos
19h – Bênção dos ramos na Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, seguindo em procissão para a Igreja Matriz onde haverá Santa Missa.
Dia 04/04/2023 – Terça-feira Santa
19h30 – Procissão do Encontro (ou dos Passos) percorrendo os Passos da paixão. Os homens saem da sacristia da Igreja Matriz junto com a imagem do Senhor dos Passos e as mulheres saem da porta da frente da Matriz com a imagem de Nossa Senhora das Dores.
Dia 05/04/2023 – Quarta-feira Santa
19h30 – Ofício das Trevas na Igreja Matriz. Vigília noturna em sinal de tristeza com Candelabro representando os Apóstolos e Cristo, apagando-se pouco a pouco as luzes.
SANTO TRÍDUO
Dia 06/04/2023 – Quinta-feira Santa
19h30 – Santa Missa Solene da Última Ceia (instituição da Eucaristia), com o lava-pés. Após a comunhão, trasladação do Santíssimo Sacramento para a adoração eucarística até a meia-noite. Depois da Bênção do Santíssimo, Procissão do Fogaréu pelas ruas do Centro Histórico.
Dia 07/04/2023 – Sexta-feira Santa
15h – Adoração da Cruz com comunhão na Igreja Matriz
19h30 – Descendimento da Cruz na Igreja Matriz. Em seguida, Procissão do Senhor Morto (ou do Enterro), pelas ruas do Centro Histórico. Ao voltar à Matriz, beija-mão do Senhor
Dia 08/04/2023 – Sábado Santo – Solene Vigília Pascal do Senhor
19h30 – Bênção do fogo novo no adro da Capela das Dores, seguindo em procissão até as portas da Igreja Matriz onde com o toque da Cruz terá início a proclamação da Páscoa.
Dia 09/04/2023 – PÁSCOA DO SENHOR
17h – Levantamento do Mastro da festa do Divino Espírito Santo. Saída da Bandeiras da casa dos festeiros às 16h30, na rua da Matriz, Centro Histórico.
19h30 – Santa Missa Solene de Páscoa na Igreja Matriz.
Entrega das Bandeiras do Divino às comunidades.
Coroação de Nossa Senhora das Dores na Igreja Matriz. Após, trasladação da Imagem de Nossa Senhora para a Capela das Dores.