Com novos ares, a Casa da Cultura de Paraty quer ser ocupada e vivida no dia a dia pelos moradores da cidade. Agora com uma agenda cultural intensa, mescla arte, música, cinema, teatro, brincadeiras e tradições em espaços abertos ao convívio e à livre imaginação de gente de todas as idades. E o visitante que chega de fora, claro, é sempre bem-vindo! Saiba mais aqui.
Texto e fotos Claudia Ferraz e Paco Zendron
Quinta-feira, 9 de janeiro, 8 da noite, e o pátio interno da Casa da Cultura era só alto astral. Estava acontecendo ali o Samba de A a Z, com gente da terra, como o sambista Ivan Rosena e os percussionistas Luciano Costa e Diego Pádua tocando e cantando um repertório de primeira, para um público animado que, em vez de sentar, preferiu mostrar que tinha samba no pé. Era a Quinta Justa, uma das novidades da nova agenda cultural que tem tudo para animar a semana dos paratienses. No dia seguinte, sexta, a noite seria reservada para a Roda de Ciranda, com vez para os mestres Amélio e Zé Malvão, tocando com Maguinho e Vinícius, da nova geração de músicos de Paraty. E a meninada chega com vontade cada vez maior ao Sábado da Criança, sempre no finalzinho da tarde. Nesse que passou, dia 11, teve brincadeiras, jogos e oficina de argila com os arte-educadores Bruno Coqueiro e Lilian Pieczanka. Mas há contação de histórias e várias atividades divertidas a cada semana. Tudo isso?
“Sim, o objetivo é que a população sinta que a casa é dela”, me responde Cristina Maseda, atual presidente da Associação Paraty Cultural, ong responsável pela gestão da Casa da Cultura. Para ela, a antiga tradição desse casarão no Centro Histórico (veja o quadro abaixo) é de grande importância na vida cultural da cidade, e merece ser mantida. “Nos casarões de Paraty, as pessoas se encontravam para conversar, comer, tomar o café da tarde, encontravam-se para a hora do bolo, da banana cozida… Porque, na casa do paratiense, a tradição é manter a mesa sempre posta. Pois é assim que queremos a Casa da Cultura hoje: como se ela fosse a casa de todos nós, da grande Mãe, com acolhimento e fartura traduzidos numa programação cultural capaz de agradar a todos. Nossa preocupação é trazer para cá esse sentido de boa acolhida, abrindo as portas para o paratiense”, completa Cristina Maseda, com entusiasmo.
Foi na primeira semana de junho de 2013 que a atual diretoria assumiu. Mangas arregaçadas e de olho em cada detalhe, a equipe vem trabalhando em sintonia com o foco da nova política cultural: “casa de portas abertas” especialmente para a população local, sem deixar de conquistar também o turista.
Para isso, uma das prioridades foi alterar o uso de alguns espaços de exposição e ampliar as áreas de circulação e convívio, inclusive garantindo mais conforto e atualizando os equipamentos de som e iluminação. No final do ano, por exemplo, a casa ficou fechada por dez dias para uma primeira reforma importante: o Café Cultura ganhou ainda mais charme integrado ao Pátio por uma nova abertura.
E no Auditório, o palco foi rebaixado, tem agora 60 cm de altura. Em breve, vai ganhar cortinas e coxias novas, além de roldanas para o cenário e uma iluminação cênica especial. “Com todo esse tratamento estético, o objetivo é valorizar o espaço e deixá-lo em perfeitas condições para receber espetáculos de teatro, dança, música, exibições audiovisuais, encontros, conferências etc.
Domingo é dia de cinema
Uma boa novidade na agenda do Auditório é a volta do Cineclube Paraty à Casa da Cultura, agora com sessões (gratuitas) sempre aos domingos, às 19 horas. E depois do filme, o programa é o bate-papo sobre cinema no Café Cultura. Na sessão de estréia foi exibido o ótimo Intocáveis (Intouchables), filme francês de 2012, com direção de Eric Toledano e Olivier Nakache (veja no final da matéria toda a programação do mês de janeiro). “Nessa parceria com o Cineclube Paraty, a Casa vai ter a chance de receber cineastas, roteiristas, diretores, gente de cinema e audiovisual para conversas com o público”, reforça Cristina Maseda.
Aliás, formação de público é um dos desafios da nova diretoria. Cristina explica: “A Casa tem agora sua própria agenda cultural, que vai dialogar com os muitos eventos da cidade, mas sem perder sua autonomia enquanto espaço”.
O lugar das exposições
Para pôr em prática essa prioridade de formar público, o espaço das exposições entrou em sintonia com a nova agenda. Após a reforma, a Casa reabriu com quatro mostras, todas elas ainda em cartaz nessa temporada de verão.
No Salão Nobre, no segundo andar, a mostra Paraty das Festas (aberta até 10 de fevereiro) reúne as cortinas idealizadas pela cenógrafa e produtora teatral Bia Lessa, a partir de desenhos do renomado artista plástico Julinho Paraty, com bordados gigantes feitos com capricho pelas bordadeiras do ateliê de Kazue Noritake e restauradas em 2013 por Vanear Moreira.
“Uma beleza ver as festas tradicionais contadas por
bordados”, elogiou Téo Rameck, paratiense de família
tradicional, presente na abertura da exposição.
No primeiro andar da Casa, logo à entrada, a sala Dona Geralda expõe Máscaras e Cores (em cartaz até 10 de março), com trabalhos do mestre Natalino Silva, recentemente falecido.
Também no primeiro andar, a exposição Povos de Paraty (aberta até 31 de março) presta uma dupla homenagem: ao povo caiçara e ao mestre Natalino Silva, que ganhou uma sala com seu nome. Na mostra inaugural, uma instalação típica da região, com peixes produzidos pelo caiçara e artista Almir Tã, da Ilha do Araújo, e versos do poeta Zé Kléber.
Completando os espaços de exposição, as paredes do Café da Casa, reservadas a mostras de fotografia, apresentam o trabalho personalíssimo (e poético) da fotógrafa Evelyn Ruman, na mostra O amor é eterno, se acaba não era amor (até 3 de fevereiro).
Sobre as exposições, Cristina Maseda ainda esclarece: “Pela primeira vez na história da Casa foi lançada uma convocatória nacional para artes visuais – performance, instalação, pintura e escultura -, visando a ocupação das salas por cinco exposições ao longo de 2014. O período de inscrições vai até 31 de janeiro. A idéia é abrir os espaços também a artistas brasileiros em geral”.
Outra novidade da agenda permanente da Casa é a realização de uma grande exposição anual sobre Paraty. A de estreia vai acontecer no próximo dia 21 de março, em comemoração aos 10 anos da Casa da Cultura, com trabalhos da célebre fotógrafa paulista Nair Benedicto, pioneira no fotojornalismo brasileiro e apaixonada pela cidade.
Música e tradição também ocupam lugar de honra na nova política cultural da Casa. Integrando o projeto Memórias: Cirandas e Folias, estão programadas rodas de ciranda nesses meses de janeiro e fevereiro, com jovens músicos tocando com mestres da terra. “É um programa de experimentação, de prática artística, e tudo será gravado em audiovisual”, destaca Cristina, lembrando que na pauta do projeto estão previstos encontros informais com os Cirandeiros de Paraty, em reuniões que já vêm acontecendo uma vez por mês no espaço do Café. Bolo, cafezinho, boa prosa e troca de ideias e acordes musicais… É a essência musical da cidade buscando se manter, se difundir e se integrar à nova geração.
Ela ainda lembra que a partir do dia 15 de janeiro, a programação permanente se completa com a estréia da Quarta Jovem, quando se apresenta a banda Direct in Box. “Uma programação de quarta a domingo, para todas as idades. Queremos que essa agenda sirva para difundir e valorizar a cultura local, que seja uma referência, para as pessoas, os moradores de Paraty. O objetivo é uma programação permanente, e não eventual”, finaliza Cristina Maseda.
Guia rápido da Casa da Cultura
Veja aqui a agenda permanente, a programação de cinema do mês de janeiro, em parceria com o Cineclube Paraty, e as exposições atualmente em cartaz. No boxe que segue, conheça mais sobre a história antiga e atual da Casa da Cultura.
Quarta Jovem, música de qualidade para a moçada, a partir das 20 horas, no Pátio.
Quinta Justa, instrumental e vocal com músicos de Paraty, a partir das 20 horas, no Pátio.
Roda de Ciranda, às sextas-feiras, até fevereiro, encontros do público com grandes mestres da cultura caiçara em alegres rodas musicais, a partir das 20 horas, no Pátio.
Sábado da Criança, aberto à meninada, com arte-educadores e contadores de histórias em programação alegre e educativa. A partir das 18 horas, no Pátio.
Aqui tem Cinema, sempre aos domingos, com o Cineclube Paraty oferecendo sessões gratuitas e uma programação de qualidade, escolhida pelos curadores do cineclube. Sempre às 19 horas, no Auditório, com debate e comentários no Café da Casa, após o filme.
Exposições
Máscaras e Cores – Natalino Silva, na Sala Dona Geralda até 10 de março.
Povos de Paraty – Sala Natalino Silva, até 31 de março.
Paraty das Festa – Salão Nobre, até 10 de fevereiro.
Exposição de Fotografia – Evelyn Ruman, no Café da Casa, até 3 de fevereiro.
Um pouco de históriaPor muito tempo, aquele belo sobrado de esquina foi conhecido como “o casarão”. Construído provavelmente em 1754, é considerado hoje um dos mais representativos da arquitetura do século 18. Estudos feitos em 1979 pela Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico apontam que a primeira parte do prédio a ser edificada teria sido a da esquina, com duas portas para a rua Dona Geralda (ou do Mercado), e provavelmente três portas para a rua Dr. Samuel Costa (ou do Rosário). Pelo número de portas, é bem possível que ali tenha funcionado originalmente um armazém. Também há indícios de que no período de 1858 a 1880 o sobrado tenha sediado uma padaria. Não há, entretanto, documentação detalhada sobre a origem ou a finalidade da construção. O que existe faz parte do acervo do IHAP (Instituto Histórico e Artístico de Paraty) e da Câmara Municipal. Mas é sabido que no final do século 19 a construção passou a funcionar como escola, até pelo menos o ano de 1939, quando registros de história oral contam que o sobrado foi a “escola da professora Ernestina”. Em 1943, novos rumos: o casarão foi a sede do Paratyense Atlético Clube – PAC que, por sua vez, concedeu dois cômodos de esquina, em 1958, para a sociedade musical Santa Cecília. Com vocação natural para espaço de encontros e desenvolvimento do convívio cultural, a Casa da Cultura, tal como a conhecemos hoje, foi viabilizada através de uma parceria entre a Eletronuclear, a Rede Globo, a Prefeitura de Paraty, a Votorantim e a Fundação Roberto Marinho com o apoio da Springer Carrier no sentido de homenagear os paratienses que conseguiram preservar sua história. Em funcionamento desde março de 2004, seu projeto de restauração foi realizado a partir de um estudo original, elaborado pelo arquiteto Glauco Campello. O resultado é a bela construção colonial, em um conjunto arquitetônico que incorpora vestígios do prédio original. Pensada para acolher exposições de grande, médio e pequeno porte, e apresentações artísticas, audiovisuais e musicais, inclusive ao ar livre, é também um espaço vivo para encontros, conferências e toda sorte de atividades de um centro cultural, com fortes referências para os moradores – em especial um lugar de troca de experiências e ideias, discussão e produção de arte e cultura para a comunidade, professores, alunos, artistas e artesãos – e também para visitantes. Sua gestão é feita pela ONG Associação Paraty Cultural, composta por associações culturais e de moradores e cidadãos interessados. Os objetivos são promover e apoiar as ações educacionais, culturais, turísticas, sociais e ecológicas, além de contribuir para a formação da população nessas áreas. Verdadeiro centro cultural, a Casa da Cultura de Paraty tem programação permanente e atende a várias demandas da comunidade, do poder público e de associações, sendo o único equipamento cultural da cidade.
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Veja quem participa dessa atual gestão à frente da Casa de Cultura de Paraty, desde 2013:
Cristina Maseda, presidente; Raphael Moreira, vice-presidente; Rodrigo Cunha, diretor-financeiro; Gabriela Gibrail, diretora-cultural; Márcia Toledo, secretária-executiva; Didito Torres, gerente; Emanuel Gama, produtor; Graziane, assistente de produção; Juliana Radler e Ana Paula Orth, comunicação; Isabel, serviços gerais, e os curadores Fernando Fernandes, do Studio Bananal, Renata Rosa e Patrícia Gibrail, artistas plásticos responsáveis também pela concepção das exposições nos espaços da Casa da Cultura.
Visite:
à rua Dona Geralda, 177 / Centro Histórico
de quarta à segunda-feira, das 10 às 22 horas
(24) 3371 2325
facebook.com/casadaculturaparaty
Parabéns pela iniciativa de criar um centro cultural de caráter permanente na cidade de Paraty, com programação diversificada e de alto nível.As instalações também merecem destaque pelo bom gosto e refinamento. Desejo sucesso.
Oi Ligia, tudo bem? E’ so enviar um email para o endereco acima que voce recebera toda semana a nossa programacao.
Obrigada,
Marcia.
Gostaria de receber a programação da Casa da Cultura sistematicamente pra divulgar pra os meus alunos.
Parabéns pela programação, ficou criativa,Bem legal!
Importantíssimo a iniciativa da valorização do artista local! Parabéns mais uma vez!