“Paraty é uma beleza, juntar boa música com esse cenário paradisíaco é imbatível, irresistível…”
Fotos: Ricardo Gaspar
Na noite de 07 de junho de 2017, tivemos um gostoso bate papo com Edgard Radesca numa sala lateral no seu Bourbon Street Music Club, em São Paulo. A sala é decorada com fotos em preto e branco dos inúmeros shows que já aconteceram na casa. Radesca é o realizador do Bourbon Festival Paraty, que neste ano completa 9 edições.
Paraty.com.br: O Bourbon Street Music Club existe há quanto tempo? Sempre teve esta proposta musical?
Radesca: Ano que vem o Bourbon Street comemora 25 anos de existência. Inaugurou em 1993.
Veja o quadro comemorativo dos 21 anos de vida com o nome de todos os artistas que já subiram ao palco do Bourbon Street Music Club:
Sou engenheiro de formação e trabalhei muito anos como executivo. Depois abri uma consultoria. Mas, sempre fui apaixonado por música, indo a todos os shows que apareciam na cidade.
Meu concunhado, Luis Fernando Mascaro, veterinário de formação, também apaixonado por música, viajou a New Orleans e voltou querendo fazer um clube que trouxesse a música e o espírito de New Orleans para São Paulo.
Depois de muitas conversas madrugada adentro, viramos sócios e viajamos a New Orleans. Através de amigos, conseguimos marcar uma entrevista com o assessor de relações internacionais da prefeitura de New Orleans, que se entusiasmou com a ideia. A conversa foi muito positiva, embora esperássemos, não só a simpatia, mas também um apoio financeiro, o que não ocorreu… Os primeiros contatos do Bourbon se deram a partir de uma carta de apresentação do prefeito de New Orleans a uma lista selecionada de jornalistas, galerias de arte, empresários. Isto ajudou muito a iniciar com o pé direito e até hoje, o Convention & Visitors Bureau de New Orleans apoia o projeto institucionalmente, o que nos dá muito orgulho.
O Bourbon já nasceu com grandes ambições, querendo fazer as coisas muito bem feitas, trazendo grandes músicos e proporcionando uma experiência completa, transportando o astral e a alegria de New Orleans para o Brasil.
A casa abriu as portas em 1993 com 4 noites e show com ninguém menos do que BB King. Foi um sucesso total!
Paraty.com.br: Quem são os músicos que ainda sonha em trazer?
Radesca: Muitos dos que eu queria trazer já morreram… Billie Holiday, Chet Baker, Nat King Cole…
Paraty.com.br: como está o jazz e o blues hoje? Há novidades?
Radesca: A música sempre passa por constantes renovações e hoje mais ainda com a facilidade das comunicações, gerando muitas influências. No jazz isto é muito forte. O músico bebe de várias fontes: oriental, latina, hip hop, mainstream e faz música de seu jeito único.
O Blues tem também novos artistas, mas é um estilo mais amarrado nos 12 compassos. Surgem sim novos músicos com Gary Clark Jr, que atrai muito público jovem. Há muitas interseções como blues rock, folk blues… Veja, por exemplo, o último disco dos Rolling Stones como um disco de blues à moda dos Rolling Stones. No Brasil, Maria Gadu, Zeca baleiro também estão fazendo músicas com uma pegada blues.
O Blues já foi mais importante, embora sempre mantenha um grande público fiel. Hoje, vive um início de renovação, um renascimento.
Paraty.com.br: Como é feita a curadoria da programação?
Radesca: Uma boa curadoria é uma ação coletiva. Ninguém é capaz de conhecer tudo de jazz e blues, e ninguém é o dono da verdade. Somos várias pessoas envolvidas (Eu, Herbert, Inês, Roberto, Oto, Maria Inês, Maria Fernanda, Bruno). Nós nos reunimos e debatemos as possibilidades e também estamos sempre abertos a sugestões de quem quiser colaborar.
Anualmente vou ao Festival de New Orleans que concentra mais de 500 shows, em dois fins de semana, divididos em 10-12 palcos, cada um com um estilo musical. Além de ouvir CDs e ver os vídeos na internet, acho muito importante assistir o músico ao vivo. Pelo menos 90% dos músicos que o Bourbon traz, já assisti pessoalmente.
Paraty.com.br: Como a crise está afetando os projetos?
Radesca: Neste ano, o Bourbon Paraty está sem um grande patrocínio e, para conseguir fazer o evento, houve um grande esforço coletivo: a Prefeitura conseguiu repassar o mesmo valor do ano passado, os comerciantes da cidade se organizaram e ofereceram diárias em hotéis e refeições, os músicos toparam se apresentar com um valor de cachê menor. Mesmo sendo um evento reduzido, com menos palcos e atrações, fazemos questão de manter a qualidade artística dos shows.
Paraty.com.br: Como surgiu o projeto Paraty?
Radesca: Quando o Bourbon Street completou 10 anos de vida, resolvemos fazer uma comemoração que, além de ter o BB King, incluísse uma amostra do Festival de New Orleans com 6-7 músicos de diversos estilos. Assim nasceu o Bourbon Street Fest em São Paulo, com shows na rua e no Parque do Ibirapuera, na época com o patrocínio da VIVO. A ideia era fazer isso apenas uma vez mas, atendendo a inúmeros pedidos, repetimos a experiência por 13 anos. Ano passado o festival não aconteceu, mas pretendemos retomá-lo em 2017.
E o próximo ano promete… o Bourbon Street Music Club comemora 25 anos de vida, a cidade de New Orleans festeja seus 300 anos e, claro, o Bourbon Festival Paraty chega à sua 10a edição.
A partir desse festival de rua, amigos de Paraty nos convidaram a fazer um festival de música na cidade. Já identifiquei Paraty como sendo o lugar ideal para se ter um festival de música e a primeira edição aconteceu antes do carnaval, de 2009. Inicialmente sem patrocínio, mas com um grande esforço coletivo, o evento já foi um sucesso. No ano seguinte, a data foi mudada para um fim de semana entre a Festa do Divino e o Corpus Christi, período que se mantém até hoje.
Paraty.com.br: O Bourbon faz festivais em outras cidades também?
Radesca: Sim, em Ilha Bela, fazemos o Festival Folk and Blues e o Festival de Bossa e Choro.
Paraty Segundo Radesca:
“Paraty é uma beleza, juntar boa música com esse cenário paradisíaco é imbatível, irresistível.
A cidade tem uma vocação natural para a cultura de longa data, com presenças como Paulo Autran e Maria della Costa.
Paraty conta com bons músicos, inclusive neste ano estarão se apresentando no Bourbon o violonista John Wesley e a cantora Bell Brasil. No ano passado, o Palco Santa Rita recebeu a Orquestra Popular de Paraty. Faz parte da cidade ir a restaurantes e encontrar ótimos músicos. E o Bourbon quer potencializar esta vocação trazendo também os Buskers e a Street Band, com toda a alegria de New Orleans nas ruas de Paraty.
Este ano, com a perda dos patrocínios, realizar este evento em Paraty é, realmente um Tour de Force, é um esforço feito de coração. “