Por Claudia Ferraz.
Nossos agradecimentos ao Restaurante Caminho do Ouro, que gentilmente nos cedeu o espaço para esta entrevista.
Fotos: Ricardo Gaspar
Com uma história pessoal ligada à área do turismo, o secretário municipal Wladimir Santander fala aqui, em entrevista exclusiva, no dia 17/12/2014, dos avanços e dos desafios de orquestrar a vocação maior da bela Paraty – cidade que parece ter nascido turística por natureza.
Paraty.com.br – Secretário Wladimir Santander, gostaríamos de começar esta entrevista com sua avaliação sobre o ano de 2014 na área do turismo em Paraty.
Wladimir – Foi o nosso segundo ano. O primeiro foi de organização e reconhecimento do lugar que a gente ocupa. Neste segundo algumas coisas já começaram a se encaixar e a se consolidar. Considero que foi um ano muito bom. Existe a frase que diz “o turismo é bom quando ele é bom para o morador”. À medida que ele começa a incomodar o morador, é sinal de que está sendo uma coisa nociva. Acho que em Paraty a população entende que o turismo é, de fato, a vocação da cidade. Mas temos que cuidar da transformação, que não pode ser brusca nem negativa. É o princípio da sustentabilidade, que traz junto a participação popular, a preservação do patrimônio cultural e ambiental, e a geração de emprego e de renda. Essas coisas indo bem, tudo acaba bem.
Paraty.com.br – Esse princípio da sustentabilidade também tem a ver com formação de mão de obra local?
Wladimir – Sim, é da maior importância fazer um trabalho de desenvolvimento, que gere novas oportunidades especialmente para os jovens. O Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) é uma realidade que está acontecendo no município, embora não apareça, porque não acontece de imediato como retorno para a cidade. Só vai ver quem for ali na Escola Pequenina Calixto e encontrar aqueles alunos, aquelas 60 pessoas estudando. A formatura do Pronatec é muito emocionante. Em 2013, formamos 45 guias de turismo e recepcionista de meios de hospedagem. Em 2014 houve cursos para recepcionista de eventos e organizador de
eventos. Pelo Senac, estamos agora finalizando as inscrições de 30 vagas para o curso básico de inglês. Isso é estimulante! Queremos trazer o Sesi, o Sesc, desenvolver o talento desses jovens por meio de cursos de educação profissional. Com vocação turística, Paraty é uma cidade que precisa ser referência em cultura. E a sociedade precisa usufruir da cultura.
Paraty.com.br – Final de ano, estamos às vésperas do réveillon, há sempre a expectativa entre os paratienses e turistas: o aguardado calendário de eventos para 2015. Pode comentar o calendário para o próximo ano?
Wladimir – O calendário de 2015 já está quase fechado. Temos um calendário belíssimo, invejável. Nas nossas viagens a feiras de turismo, as pessoas se aproximam para tentar saber qual é o segredo de um calendário tão rico. Respondemos que não existe segredo. Esse calendário é fruto da nossa cultura, da tradição do povo que gosta muito de arte, dessa população que, por causa de cem anos de isolamento, retardou seu desenvolvimento e manteve vivos os costumes locais. Enquanto outras populações se sofisticavam, seguindo a evolução da história, a gente continuou sendo uma cidade com hábitos muito tradicionais. A ideia dos eventos data dos anos 80, época em que Paraty tinha longos períodos de sequer uma alma na cidade… Aos poucos foi tomando forma o calendário permanente, de início de forma cambaleante. Atualmente, graças aos royalties, a Prefeitura tem podido garantir a realização de muitos eventos.
Paraty.com.br – Houve algumas mudanças, a gente notou este ano. Especialmente no Festival da Cachaça e no Carnaval. Quais os resultados mais evidentes dessas mudanças? (assista ao vídeo)
Paraty.com.br – E o Carnaval, o que mudou e o que promete para 2015?
Wladimir – Já houve mudanças sensíveis no Carnaval. A gente está colocando a mão sobre alguns pontos, como a questão dos horários e a decisão de não trazer grandes shows.
Sabemos, a cidade é pequena e os grandes shows trazem muita gente, o que exige um aparato muito organizado. Preferimos deixar os shows de grande porte para o aniversário da cidade, que é uma festa mais local.
Paraty.com.br – Essa questão dos horários já está sendo contemplada nos eventos do calendário 2015?
Wladimir – Sim, a gente já vem nessa batida de baixar os horários dos eventos à noite, como no show do Viva Verão. No Festival da Cachaça, a experiência mostrou que deu certo: a programação acabou à 1 h da manhã, às 2 h já havia acabado totalmente a movimentação. Nós entendemos que deve haver, sim, esse limite. Veja, não estou falando que a cidade tem que dormir às 2 da manhã. Claro, se há uma boate ou um bar que funcione pela madrugada, isso é diferente. Com os eventos obedecendo a um horário para acabar, a cidade vai ganhando uma outra cara, na segurança, na limpeza… Hoje, por exemplo, eu vejo Paraty uma cidade muito limpa. A gente até se surpreende, pois o pessoal faz mais até do que a gente espera. No Festival da Cachaça, às 7h da manhã a cidade estava limpa. Isso vem de encontro com o que a gente propôs, de acabar o festival às 2h da manhã.
Outra coisa que vem sendo bastante alterada é a questão do controle sobre os ônibus que entram na cidade e que, em geral, impactam algumas localidades, como a Prainha, São Gonçalo, Trindade e Laranjeiras.
Paraty.com.br – Como a Prefeitura está se preparando para o verão em Trindade? (assista ao vídeo)
Paraty.com.br – A comunidade está respondendo bem a esse controle?
Wladimir – Está aceitando muito bem, sim. Inclusive temos recebido solicitações. Como no caso de moradores da Prainha de Mambucaba, por exemplo, a última praia do norte, um lugar com o qual o paratiense praticamente não tem contato. Chegamos a receber uma visita de moradores locais, incomodados com o turismo de massa. A gente achava que estava tudo certo, que eles conviviam bem com aquele turismo e se beneficiavam dele, mas na verdade não era isso que estava ocorrendo. Eles reivindicavam outro tipo de turismo. Passamos então a agir mais fortemente na fiscalização de ônibus, com o intuito de filtrar mais, por meio de blitz em Mambucaba, deixando a entender que não estamos impedindo o turista de vir, seja ele quem for, mas temos que minimizar o impacto que o veículo causa no local.
Paraty.com.br – Esses problemas de superlotação também afetam Trindade e Laranjeiras, não?
Wladimir – No réveillon de 2012, vocês se lembram? Tivemos cerca de 8.500 visitantes na Praia do Sono. Isso nos levou a criar uma ação de controle juntamente com o INEA (Instituto Estadual do Ambiente), ação que vamos repetir este ano. Para impedir, por exemplo, ônibus estacionados em Laranjeiras, na Vila Oratório, fazemos uma barreira, pedindo que esses ônibus venham a Paraty. Os turistas então saem daqui em ônibus circulares no sentido Laranjeiras, para chegarem ao Sono. A população local vem percebendo a diferença e já sabe que pode contar com o nosso apoio. Não há dúvida, temos que ter uma política de ordenamento diante dessa realidade que é o turismo em Paraty. A cidade não cresce, mas à medida que os eventos acontecem chega mais e mais gente e, por sua vez, são esses eventos que contribuem muito para dar mais visibilidade à cidade. Vejo Paraty muito bem, com uma política de eventos responsável por quase toda a questão turística do município. Responsável pela política de renda, pela promoção da imagem de Paraty. Porque apesar de a cidade estar crescendo e de ter uma visibilidade muito grande, o desafio é que Paraty permaneça sendo tratada como uma cidade pequena, pois essa característica é que traz aqueles que nos visitam. O que estamos fazendo são encaminhamentos, olhando os problemas e buscando novos meios de fazer.
Paraty.com.br – Há outros locais afetados na temporada que estão na mira da secretaria para esse verão?
Wladimir – A cachoeira do Tobogã, Trindade, com seus problemas de estacionamento, a Ilha Comprida e praias como a da Lula e a Vermelha. Esses são locais que costumam ter superlotação e precisam de um ordenamento. Estão na nossa pauta para 2015. Por mais que a gente queira, não temos fôlego para solucionar tudo. Mas já começamos um plano piloto para o Tobogã e o Tarzan, que visa chegar a um número máximo de visitantes simultâneos. Ali não dá para ser diferente, ainda mais com a abertura da Paraty-Cunha, que vai facilitar a descida de moradores do Vale do Paraíba, o que poderá aumentar muito o turismo de um dia. Isso vai transformando a cidade e, quer queira quer não, é preciso estar preparado para poder ditar as regras, porque não dá para receber todo mundo ao mesmo tempo no mesmo lugar. Por essa razão, estamos fazendo um trabalho inicial de levantamento, um estudo de capacidade de cargas e suporte para o Tobogã e o Tarzan.
O Parque Nacional adotou medidas desse porte em Trindade, para a preservação da Praia do Meio e a piscina natural. Chegaram a um número de visitantes simultâneos – oitenta, com controle feito por mar, pelos barqueiros da ABAT, e também por terra, pela trilha, computando quantos turistas entram e quantos saem.
Paraty.com.br – A infraestrutura da cidade está preparada para receber os turistas no verão, secretário?
Wladimir – Água e esgoto estão encaminhados, é uma questão de tempo, o que é necessário nessa área está sendo feito. Ainda é precária nossa rede de esgoto, sabemos que pode estourar um ponto aqui, outro ali. Mas estamos atentos para poder resolver essas urgências o mais rápido possível, para que as coisas andem bem. Já no ano passado, quando tivemos um verão bastante seco, não me lembro de problemas com água. A questão da luz, sabemos que podem ocorrer aqueles picos de energia, mas já no ano passado também foram poucos. A telefonia e a internet, esses ainda são um problema sério. Estão em andamento ações de cobrança às empresas fornecedoras desses setores, mas não sou a pessoa mais adequada para falar sobre isso.
Outro ponto favorável é que estamos no momento com ótimas estradas. Antigamente se dizia que a estrada em direção a Ubatuba ficava uma maravilha quando se entrava no estado de São Paulo. Agora não é mais assim, as estradas do Rio de Janeiro estão melhores, o que favorece visibilidade para Paraty.
Paraty.com.br – Há na cidade algum canal de comunicação permanente com o turista, inclusive aberto a reclamações?
Wladimir – A própria secretaria de turismo é esse canal de atendimento, por meio do posto de informações. É lá que as pessoas batem, é onde funciona plantão nos finais de semana.
Buscamos dar todas as respostas e encaminhar as reclamações aos órgãos responsáveis. Além disso, alimentamos um banco de dados com informações semanais sobre o que acontece em espaços como o Silo Cultural, a Casa da Cultura etc., para complementar o atendimento ao público no posto de informações. Também visando a informação ao turista e à população em geral está na nossa meta um trabalho de sinalização.
Paraty.com.br – Sinalização por meio de placas nas ruas?
Wladimir – Vamos fazer três tipos de sinalização. O primeiro é a sinalização básica, através das placas marrons, aquelas que indicam os atrativos da cidade. O segundo é a complementação da sinalização da Mastercard, um contrato que termina agora em 2015, e que já está na entrada de Trindade, no trevo de bifurcação das cachaçarias e na Ponte Branca, onde vamos fazer uma limpeza naquele visual colocando um totem único para simplificar aquelas informações todas daquela região. E o terceiro tipo de sinalização tem base no mobiliário urbano, com pontos de ônibus, mapas indicativos do tipo “Você está aqui”, bicicletários, estacionamentos de motos. Vamos também organizar as charretes fazendo melhorias, como pintura, novas capotas, uniforme para os charreteiros, cadastramento dos animais pela vigilância sanitária. E quanto à requalificação das atividades de transporte, além dos ônibus, uma das principais ações vem sendo feitas junto aos barqueiros.
Paraty.com.br – Há mudanças em curso ou ainda são planos?
Wladimir – Eu venho da Associação de Barqueiros e acredito no entendimento com eles. Estamos fazendo um cadastramento de todos, requalificando-os como empresa, em casos de barcos a partir de trinta 30 passageiros, e como MEI os proprietários de barcos pequenos. Eles aceitaram a proposta, resolveram fazer duas associações independentes, uma de escunas e outra de barcos menores, e já há um decreto que define o número satisfatório de embarcações para atender à demanda, inclusive com a possibilidade de mais barcos, se necessário. Essa medida evita o que acontecia antes, pois quando há uma oferta maior que a demanda, os preços vão se achatando e a qualidade do serviço cai. O plano para atingir o ideal desse turismo por barcos é que a gente consiga um equipamento de terminal turístico com catracas para a venda de bilhetes pelas agências. O segundo passo é a fiscalização. Todo esse processo está caminhando bem, os barqueiros aceitaram, estão se regularizando. Além disso, o cais, no começo deste ano, passou por uma reorganização dos espaços.
Paraty.com.br – E a situação dos jeeps?
Wladimir – Muitos deles ainda não estão legalizados. Demos um prazo para que eles se regularizem e possam receber os alvarás. Pensamos em definir dois ou três pontos para os jeeps ficarem à espera de serviço. Tudo isso faz parte das nossas preocupações com a imagem da cidade. São esses serviços que, devidamente organizados, acabam pesando na escolha do turista.
Paraty.com.br – Você tem alguma recomendação bem pessoal para quem chega a Paraty querendo o melhor?
Wladimir – Ah, eu diria venha a Paraty em março, abril… Para visitar o Sono, o Mamanguá… Claro, a gente gosta dos feriados, dos eventos, mas o que a gente gosta mesmo é da segunda-feira, da tranquilidade, do sossego e da beleza de um passeio até a Ponta Negra…
Paraty.com.br – Quem é Wladimir Santander?
Wladimir – Sou paratiense, tenho 52 anos. Aos 13 saí e fui para Taubaté. Voltei com 21. Meu pai era paulistano e minha mãe é paratiense, filha de um dos grandes comerciantes de Paraty. Ela herdou um sobrado e construiu uma das primeiras pousadas da cidade, a Bela Vista, onde hoje é a Porto Imperial. Por um tempo trabalhei no ramo, depois passei a trabalhar no mar. Comprei uma baleeirinha e fui gostando, inovando, fazendo uniforme, propaganda, tomando gosto pelo marketing. E saía com o barco sempre cheio, enquanto outros saíam mais vazios. Então resolvi comprar um barco maior. Meu sonho era ter uma escuna grande… Passei a trabalhar na organização da Associação dos Barqueiros de Paraty. Eu me dedicava ao marketing e acreditava que iria fazer crescer a Associação. Fazíamos as reuniões, boas reuniões! Depois apareceu o Casé, que me convidou para trabalhar junto à Prefeitura.