Entrevista com o pescador e pilar da cultura caiçara: Almir Tã
Em entrevista exclusiva, às vésperas do aguardado Festival do Camarão, o líder comunitário caiçara fala da sua vida de pescador e militante, conversa sobre livros e saberes, e não esconde seu entusiasmo pela realização de mais uma, a 51ª, tradicional festa de São Pedro e São Paulo, na Ilha do Araújo.
Caiçara dos mais sábios, Almir Tã é daquelas figuras queridas e respeitadas, admiráveis já à primeira vista. Em Paraty, quem o conhece melhor reconhece sua lucidez, força e desembaraço ao falar, quando o assunto diz respeito à identidade cultural de seus parceiros caiçaras e, especialmente, à preservação do mar. Para muito além dos discursos, ele vive preservação, ecologia e sustentabilidade como atitudes naturais no seu dia-a-dia. Como líder comunitário expressivo na região, especialmente da costeira, Almir Tã pratica o que acredita. E adora repassar o que sabe para os jovens e crianças. “Eu atraio as crianças, tenho jeito com elas”, reconhece ele, que é quase um professor nato, daqueles que sabem falar com os pequenos. Não é à toa que, onde mora, ele vive rodeado de crianças…
Nascido e criado na Ilha do Araújo, Almir Tã, 57 anos, descendente dos índios Guayanã, tem orgulho de sua origem. Irmão de sete mulheres, conta que começou a trabalhar cedo. Com apenas 10 anos já não tinha muito tempo para brincadeiras. E cresceu sem grandes diversões. Na lida da pesca, de tanto observar e sentir o vento, o mar, as marés, a temperatura da água, a fartura ou a escassez de peixes, foi se tornando um sábio do seu habitat. Pescador por natureza e cozinheiro de mão cheia, ele acumula méritos de autodidata também como artesão e artista plástico. Trabalhar com a madeira, fazendo miniaturas de canoas, é um de seus grandes prazeres. “Já fiz muitas, as crianças adoram e aprendem desde cedo como é importante essa embarcação”. Porque para Almir, a canoa é um ícone. “Símbolo máximo da cultura aqui da minha gente. É ela que garante o transporte de quem mora em uma ilha. Além do mais, a canoa é o elemento de conexão mais perfeito entre o pescador e a pesca“, diz filosofando com muita simplicidade.
Vale dizer que sua atuação como professor de artesanato para crianças aconteceu com o apoio de parcerias com o Sebrae e é um dos frutos do que aprendeu nos cursos do Ibama. “Mais do que ensinar a fazer canoa, posso passar às crianças a prática de tirar madeira sem danificar a natureza”, ressalta Almir, que mantém encontros em seu ateliê para contribuir na educação das crianças, por meio de atividades criativas e que reforcem a identidade local.
Hoje, ele se dedica ao artesanato apenas na medida do possível. Diz que não gosta de aceitar encomendas grandes para não ter que desmatar. Faz suas peças quando pode e vende na própria Ilha ou na lojinha da Praia Grande, do grupo de mulheres chamado Mulheres Caiçaras em Ação, que costuma expor seus trabalhos no Festival do Camarão. “São artesãs da Praia Grande, da Barra Grande, de São Roque. Elas passaram por treinamentos com pessoal de São Paulo, de Itaguaí, do Campinho para aprender a trabalhar com diversos materiais”, explica Almir.
Os trabalhos do Almir estarão na próxima edição do Paraty Eco Fashion, previsto para acontecer de 16 a 19 de outubro.
Almir Tã e os livros
Homem de muitas vocações, Almir Tã valoriza a importância da leitura para a melhoria da qualidade de vida de seus parceiros, especialmente das crianças da comunidade do Araújo. Um de seus feitos de maior repercussão foi a criação da biblioteca comunitária Ler é Arte, transformada em Ponto de Leitura pelo Ministério da Cultura. Hoje com um acervo de mais de três mil volumes, o local, porém, está altamente comprometido pela infestação de cupins.
“Recentemente tive que queimar uns duzentos livros, isso me cortou o coração”, disse Almir que, apesar de apreensivo e em busca de apoio para salvar a biblioteca, continua orgulhoso do espaço, que é ponto de encontro e local de pesquisa escolar para as crianças da Ilha.
“A história dessa biblioteca começou quando encontrei no lixo uma caixa com quinze livros. A partir de então, montei uma miniblioteca na varanda minha casa, aberta aos moradores. O interesse das pessoas foi crescendo, a curiosidade das crianças… Aos poucos foram chegando doações de amigos e visitantes. Hoje, apesar do acervo comprometido pelos cupins, a Ler é Arte continua a fazer seu papel na comunidade. A biblioteca já tem 13 anos de existência, tem aulas do Projeto Azul Marinho de segunda a sexta-feira, que contribuem para jovens e adultos que tinham parado de estudar. Embora devagar, temos avanços! Atualmente, há em torno de vinte pessoas que já pegaram o costume de tirar livro emprestado para ler em casa”, conta ele, que sempre está pelas redondezas no horário de funcionamento, das 14 às 20 horas.
Com sua história de garra e sabedoria das tradições, Almir também surpreende no seu envolvimento com os livros. Afinal, ele se considera semi-analfabeto. “Fiz até a 4ª série do ensino fundamental com uma professora voluntária. Para os padrões do ministério da Educação, sou sim semi-analfabeto. Gosto mais de escrever do que ler. Quando me interessa, às vezes leio uma notícia de jornal, um texto aqui e ali, mas livro mesmo, nunca li um completo. Por causa da Flip, fiquei amigo da escritora Patrícia Melo, que me deu de presente um de seus livros, o Elogio da Mentira. Volta e meia eu leio um pouco”, confessa.
Não gostar tanto de ler, porém, não o impediu de ser também escritor. Na Flip de 2012, ele lançou seu primeiro livro, o “Cultura Caiçara”, pela Linha d´Água, numa caprichada edição com projeto gráfico e apoio da professora e ilustradora Graça Lima. Nesse livro ele documenta os saberes e fazeres dos pescadores e moradores de Paraty. “Falo da manufatura da rede de pesca, da construção das canoas, das velas dos barcos, do remo…Conto algumas lendas e dou receitas da culinária caiçara. Fui escrevendo isso tudo no passado, em 1980, durante oito anos. Mais de 400 páginas. Na época, entreguei todas a uma pessoa que me prometeu revisar e publicar. Mas ela nunca deu retorno, não sei se plagiou ou realmente todo aquele primeiro manuscrito foi perdido”.
Foi preciso reescrever tudo outra vez para, enfim, o livro sair publicado. Mas valeu a pena, Almir se lembra bem, porque a conversa com ele e o próprio lançamento do livro acabaram sendo um dos pontos altos sobre Paraty e suas tradições naquela Flip. Sem contar que foi um estímulo e tanto para o próprio Almir, que já anuncia:
“Estou escrevendo o próximo livro, vai se chamar “O Exterminador do Mar”. É um livro sobre os peixes que sumiram, sobre a destruição dos mares, sobretudo sobre o homem, que está acabando com as riquezas naturais. A idéia é fazer um balanço dos últimos vinte, trinta anos. . O que está faltando para nós, pescadores? O peixe sumiu? Qual a espécie? Que tipo está se pescando mais?”, vai exemplificando o líder caiçara, que não esconde estar de olhos bem abertos para o que vê acontecer na sua lida de homem do mar.
“Há laudos que apontam, talvez não seja só a pesca predatória que está acabando com os peixes…Muitas coisas são jogadas no meio ambiente…Pesticidas e principalmente o esgoto… São treze os rios que desembocam na Baía de Paraty e todos esses rios recebem efluentes de esgoto que vão in natura para o mar. Todas as comunidades jogam água de tanquinho com água sanitária, soda cáustica, detergente…Tudo isso vai para o mar!”, adverte Almir, falando sobre o tema de seu próximo livro.
Militância, entre múltiplas tarefas
Almir impressiona pela diversidade de tarefas que assume no seu dia a dia, sempre buscando a preservação da cultura caiçara.
Ele participa de oito conselhos que tratam de saúde, educação, segurança e meio ambiente. Neste momento, ele tem priorizado sua participação como conselheiro do ICMBio. Segundo ele, a grande discussão do momento é a busca do reconhecimento da Ilha do Araújo, da Ilha do Algodão, da Ponta Grossa e da Ilha do Cedro como Vila Caiçara. Em princípio, é a partir desse reconhecimento que se torna possível conter o processo de descaracterização cultural e de especulação imobiliária que já assola esses belos locais.
Almir destaca: “Hoje a Ilha do Araújo conta com 150 famílias tradicionais, cerca de 500 moradores. Mas, já há uma alta quantidade de casas de veraneio. Em dias de feriados, a população daqui sobe para 800 pessoas. Com o reconhecimento de Vila Caiçara pelo poder público a situação terá mais controle, pois há regras para a preservação e manutenção das moradias caiçaras. Caso o caiçara deseje vender sua propriedade, por exemplo, apenas 50% de seu terreno poderá ser reconstruído, o que garante a preservação da área restante. A Prefeitura quer hoje decretar toda esta região como Área de Expansão Turística e Urbana, o que favoreceria a especulação imobiliária, descaracterizando a cultura. É preciso que se saiba: quando alguém de fora vem e compra uma casa do caiçara, isso significa menos um caiçara aqui, porque ele irá morar na Ilha das Cobras ou na Mangueira (regiões mais populares da cidade). Significa também mais uma mansão dentro da comunidade. Aqui (no ponto da Ilha onde acontece o Festival do Camarão) só existem seis casas da minha família, mas do outro lado da Ilha há um crescimento desordenado, são mansões com construções de tamanho acima do permitido no município”, adverte Almir Tã.
Em constante missão de preservação da qualidade de vida de sua comunidade, ele se mantém alerta e sempre ativo: “Buscamos as quatro leis federais que existem desde quando foi criada a APA, de 1983, e que se referem à Zona de expansão turística e urbana; Zona de preservação da vida silvestre; Zona de preservação da costeira e Zona de expansão de vila caiçara. Cada família aqui da Ilha do Araújo recebeu cópia dessas leis e está discutindo como quer que a Ilha seja considerada”, ressalta, sem deixar de observar: “E eu, praticamente sem ler, tenho que discutir todas essas leis!…”
Almir conta que, de todas as ilhas do município, apenas Araújo e Algodão têm autorização para moradia. Ele conta também que está “brigando” pelo reconhecimento da comunidade da Ilha do Cedro, colonizada por volta de 1800, na mesma época da colonização da Ilha do Araújo. E confessa: “Hoje está ficando perigoso, ando mexendo com muita gente grande, com muitos interesses do município. Se a Ilha se transformar em zona de expansão turística e urbana, os grandes investem. Os grandes bancam campanhas políticas. A especulação imobiliária é muito forte. A gente já está com a agenda para se reunir com todas as imobiliárias e corretoras de Paraty e Angra dos Reis”, revela, sem esconder preocupação e até mesmo um certo cansaço: “Dormir para mim é três, quatro horas por noite. E eu que quero escrever meu livro, não escrevo nada… Aí eu saio para pescar às duas, três horas da manhã e vou botando tudo em ordem no meu computadorzinho aqui (aponta a cabeça), discutindo, relaxando, vou indo, vou indo e me preparando.”
O segredo para dar conta de tantas tarefas? “Aprendi a administrar meu tempo”, diz Almir, que completa: “Fiz o curso Brasil Empreendedor umas três vezes. Todo o meu tempo é administrado. Às vezes mal administro a casa, mas na minha vida é tudo com o tempo certo. Jogaram muitos compromissos em minhas costas. Mas tem o lado da confiança que as pessoas depositam em mim. Tem a minha credibilidade”, afirma.
E como se não bastasse, ele e sua irmã criaram uma ONG chamada AME, na Praia do Jabaquara, voltado ao atendimento de crianças especiais. Almir faz parte da diretoria.
Turismo comunitário e outros projetos
Em 2012, Almir entrou, junto com Trindade, no edital do projeto turístico Bagagem, concorrendo com outras dezesseis cidades. “Eu já fazia turismo de bagagem e não sabia”, diz ele. Esse projeto, que contou com apoio da TAM, já acabou. Mas a prática que objetiva implantar o turismo comunitário se estabeleceu na Ilha do Araújo e continua em funcionamento. Hoje, a Ilha oferece estadia em seis casas de pescadores, passeios com guia local, visita à casa de farinha, à plantação de bananas, saída para pesca, almoço tradicional etc. “Os preços são tabelados e antes de o turista ir embora, ele responde a um questionário sobre a qualidade dos serviços prestados. Tudo muito organizado”, garante Almir que, por conta desse projeto vencedor, teve a oportunidade de viajar ao Ceará e ao Pará dando palestras para comunidades longínquas, estabelecidas em Áreas de Preservação Ambiental, relatando a experiência bem sucedida da Ilha do Araújo.
Almir aproveita para contar que, em breve, no próximo mês de agosto, a Ilha do Araújo receberá a vista organizada do trade de turismo paratiense, em parceria com a Agência Paraty Tours, para apresentar o roteiro turístico de cultura caiçara.
Veja o Almir Tã falando sobre a importância do roteiro de turismo comunitário organizado na Ilha do Araújo:
Não, ele não para! Conta também que está começando um trabalho com mulheres da comunidade. “Talvez daqui a dois ou três anos, iremos lançar uma candidatura, com uma chapa completa com prefeito, vice e todas as secretarias. Pessoas da comunidade já estão se preparando para se candidatar ao cargo de vereador. Já houve muita procura para eu participar politicamente, mas nunca quis me envolver, porque sou pavio curto”, diz.
“Atualmente, a Paulinha da UFRJ, o Pardinho da Ciranda de Tarituba e eu somos os representantes responsáveis por esse grupo, que está trabalhando com o Ministério da Pesca, Ministério da Defesa e Ministério da Educação para trazer um projeto grande para Paraty. Depois desse trabalho que fiz no Pará e no Ceará, sou representante da Rede Solidária da Pesca do Brasil, em Paraty, que tem o aval da Cáritas. No próximo mês de julho teremos um encontro da UFRJ, a proponente do trabalho, com todas as universidades federais do Brasil integradas à Rede Solidária”, conta Almir.
O 21º Festival do Camarão
Durante essa conversa, que aconteceu às vésperas de mais um Festival do Camarão, Almir Tã confessou que estava torcendo muito para que os pescadores (ele inclusive) alcançassem a quantidade necessária para garantir o sucesso e a tradição do evento. “Acabou o defeso, a pesca abriu, mas ainda falta muito camarão para a festa. Estamos trabalhando duro esses dias para trazer a tonelada e meia de que precisamos. Por enquanto só temos 500 kg de camarão”, diz Almir, homem de fé. Afinal, é a fé que mantém a força da comunidade que, há 51 anos, comemora com alegria ali, à beira-mar, na vizinhança da igrejinha branca tão marcante na paisagem do Araújo, no final do mês de junho, a Festa de São Pedro e São Paulo, para a qual são arrecadados fundos durante os dois dias do esperado Festival do Camarão.
“Vai dar tudo certo, na quinta-feira, feriado de Corpus Christi, a gente levanta o mastro e começa o Festival, que marca a abertura da maior festa religiosa da zona rural em Paraty. Para a comunidade essa festa é cultura, uma forma de agradecimento aos padroeiros pela prosperidade do pescador o ano inteiro”, afirma ele, que organiza e acompanha de perto os preparativos. “Em termos de tradição, estamos tentando resgatar o que ficou lá atrás, há mais ou menos dez, quinze anos. Nesta festa de 2014 vamos tentar fazer o de melhor para o pescador, mantendo a tradição da festa e recebendo bem os visitantes, tentando satisfazê-los da melhor maneira possível, pois hoje o Festival é um evento que, pelo tamanho, pela quantidade de gente que participa, às vezes nem parece nosso…É uma festa de forte sentido cultural”, reforça ele, completamente envolvido com os detalhes, porém sem perder de vista as dificuldades e o esforço da população local para que tudo saia conforme o esperado.
“Hoje está todo mundo trabalhando no vermelho, no cartão, no cheque pré-datado, no consignado. Porque a despesa é grande. E pelo fato de todo mundo ser pescador, quem se dedica à festa deixa de trabalhar…”
São Pedro e São Paulo: com a força do coletivo
Almir conta que, por muito tempo, a tradicional Festa de São Pedro e São Paulo ficou nas mãos de um pequeno grupo, de uma elite. A comunidade, na época, foi se sentindo meio de lado… Chegou ao ponto de as pessoas que organizavam levarem todo o dinheiro, enquanto que o trabalho ficava com a comunidade.
“Mas a gente está resgatando essa função de realizar a festa com a participação da coletividade. Neste ano, o padre achou que não iria ter festa, que ninguém queria pegar essa responsabilidade, porque, afinal, dá muito trabalho. Só que nós revertemos essa idéia, dando oportunidade a todos os pescadores, às suas mulheres, às famílias de participarem. Não temos um festeiro, todos estão trabalhando e cada um se dedica o máximo que pode. Um exemplo é o café comunitário, que vai acontecer com cada um trazendo um pouco: um traz o bolo, outro o aipim, outro um pouco de leite, é bem no coletivo. Hoje, entre nossa população de cerca de 500 habitantes, por volta de 60% são católicos, sendo os demais evangélicos.
Então é preciso não perder esse espaço, o objetivo é também o de recuperar a tradição religiosa, de levar as famílias a terem o prazer de estar junto, passando o dia inteiro trabalhando para realizar a festa mais tradicional da nossa comunidade. As mulheres vão dormir à meia-noite e às seis horas já estão no trabalho de novo. Quase todos nós viramos a noite trabalhando para recomeçar no dia seguinte. Isso une as pessoas, tomar café juntos, fazer um almoço coletivo… As pessoas não se sentem excluídas. Ao contrário. No sábado passado fizemos um churrasco, cada um deu uma linguiça, uma carne, a comissão deu cerveja. Veio uma banda de amigos tocar e ficamos juntos até às oito horas da noite. Para enfeitar os barcos, conseguimos doação de prendas de várias instituições, de parceiros, amigos. Todo esse trabalho desenvolvido ao longo dos 38 anos na comunidade impõe respeito. E as pessoas abrem as portas, dando apoio ao evento”, afirma Almir, confiante.
A festa também conta com o apoio da Prefeitura, que garante a divulgação, folders e cartazes, e a estrutura da tenda, das barracas, do palco e do som. Para Almir, uma contrapartida mais que justificável: “Também pela confiança de saber que se está investindo no resgate da cultura de uma comunidade, para que a identidade local não se perca. Hoje somos reconhecidos como um ícone da cultura caiçara.”
Ele antecipa aqui alguns dos pontos altos dessa festa tradicional que, este ano, terá algumas particularidades: No dia 23, as imagens dos santos são levadas em cortejo, de barco, para a Igreja de São José Operário, na Ilha das Cobras, no terminal pesqueiro.
No dia 28 acontece a regata de canoagem caiçara, homenageando a batalha naval de Riachuelo. Neste ano, a novidade é a participação da Marinha, com a execução do Hino Nacional e hasteamento da bandeira, e que estará no café comunitário junto a todos os pescadores.
O novo tenente da Marinha aceitou o convite, sentindo-se honrado em participar e celebrar com a comunidade o fato histórico da batalha naval que aconteceu há 140 anos. Estamos considerando um avanço de cidadania essa participação de uma instituição federal que, se por um lado facilita a documentação dos pescadores, por outro também atua multando, fiscalizando, ordenando. “O tenente já chegou a prometer que a Marinha estará presente também na festa do próximo ano, pois reconheceu a importância do nosso exemplo. Somos a primeira comunidade a dar essa oportunidade à instituição.”
O domingo, 29, último dia da festa, começa com a procissão marítima saindo às 10 horas do Cais de Turismo, com os barcos enfeitados, em direção à Ilha do Araújo. No meio da baía acontece a bênção do anzol (pela prosperidade da pesca durante o ano). “É tudo muito bonito”, assegura, orgulhoso, Almir Tã que, como liderança, não faz parte da comissão, mas é responsável por funções mais burocráticas da organização da festa, como segurança e bombeiros.
Ele também contribui – e muito – para a divulgação da festa na mídia, no seu sentido mais cultural. E adianta que no dia 26, quinta-feira, a Ilha do Araújo vai receber uma equipe de televisão da Globo News, que ficará por três dias acompanhando o passo a passo da festa. Mas, por si só, a força da tradição garante lotação de público. Almir já conhece bem: “Na sexta e sábado do Festival do Camarão quem vem é mais o turista. No domingo é mais o pessoal da cidade. Vem também o turista internacional. Na semana passada passaram pela Ilha uns croatas, da Copa. Eles filmaram, fotografaram e prometeram vir para o festival. Nós estaremos com dois meninos bilíngues trabalhando no caixa para dar um bom exemplo de atendimento”, assegura o pescador e líder comunitário.
Pingue-pongue com Almir TãComo você se define – pescador, artista plástico, líder comunitário, fundador da biblioteca da Ilha do Araújo…Qual sua função predileta, aquela que você considera a mais importante para sua realização pessoal? Sua vida na ilha… Como é sua rotina? O turismo ajuda ou atrapalha seu cotidiano e o da sua comunidade? Você é uma pessoa empenhada em preservar a identidade, as raízes caiçaras. Como você transmite o conhecimento das tradições para os jovens? É possível evitar que este conhecimento se perca? O que leva você a dizer que tem pouco crédito? Falta apoio? Com relação a isso, você vê falta de perspectivas na vida dos jovens caiçaras? A Ilha do Araújo tem forte vínculo com Paraty, com o município? |